quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Os últimos adormecidos no orgulho e na segurança do bronze e do mármore

O bom ensaísta sempre me pareceu ser um sujeito deslocado em meio ao caos da multidão. Imaginem alguém imerso em pura aflição porque não consegue olhar para todas as direções ao mesmo tempo e registrar a sincronia dos gestos das pessoas em harmonia (ou não) com a natureza. Mas mais do que flanêur das ruas, ele deve escrever sobre assuntos que o deixam desconfortável. Assim, mergulha nas contradições humanas e se sente mal por fazer parte delas. Além disso, sabe escolher um título enigmático para seus textos.

Porém, ao olhar para os lados e enxergar as mesmas paredes vazias, resta ao escritor investigar até onde vai sua imaginação desestimulada. É o meu caso, tenho acumulado um número preocupante de dias sem sair de casa e portanto, há muito tempo não sou obrigada a encarar a vida real. Troquei passeios longos por voltas e mais voltas ao redor da ideia fixa que a solidão que entregou de bandeja.

E a perigosa ideia fixa que tem rondado meus dias é sobre ter que lidar com a dificuldade de assumir uma vida autêntica, o que talvez seja uma característica intrínseca da luta individual humana. Pois então, já passou da hora de resolvermos esse problema, nada é invicto só porque existe há muito tempo.

Entram em cena os últimos adormecidos na frieza de seus personagens perfeitos. São as pessoas que precisam colocar uma máscara para tentar falar a verdade, o inverso da vida autêntica. Essa não é a metáfora que o artista utiliza, nem tem a ver com o meio de expressão, ela é o pacote de estereótipos que assumimos para tornar mais fácil a aceitação social. Quem segue o padrão, exalta as modas, louva os jornais e obedece conselhos vazios sem questioná-los assinou um contrato, esse infeliz vendeu a alma para nunca mais receber críticas de ninguém. Ora, o resultado não poderia ser outro: quem preenche essa massa é gente de mentira e não tem porque perder-se tempo avaliando esses manequins de loja.

É tão bom expor opiniões e manifestar seu jeito de mundo melhor, afinal cada um sabe o peso que permanece depois dos desafios enfrentados e só se transforma dor em sabedoria para impedir que futuras gerações carreguem o mesmo fardo desnecessário de um lado para outro. Mas, apesar das boas intenções embutidas nas palavras, a necessidade da máscara incomoda, até porque precisamos nos impor em horas inesperadas e aí quem for pego desprevenido fica calado.

Só a arte permite o sujeito encarar sofrimentos insuportáveis e sair com fôlego de ser quem realmente deveríamos ser. Porque ela nos faz perceber o tamanho da nossa culpa.  Tento levar a sério aquilo que acredito, assim como sei a evolução das ideias profetiza várias rupturas e desdobramentos ideológicos baseados em leituras e influências, é possível que eu ainda descubra que a solução dos meus problemas era bem mais simples e menos dolorosa, mas aposto que muitas respostas ainda chegarão nessa guerra contra o tédio, há dias sem sair de dentro da minha casa.