Venho sentindo que a vida colocou um saco de pipoca enorme
no meu colo e começou o filme. E que produção bem feita, não diria confortável,
mas com certeza é dessas que brincam com os sentidos e te fazem perder a
realidade. Não importa a direção. Apenas caminhando para a saída de um grande
pesadelo.
Em uma sala de cinema (inventada?) quase vazia, quem está
ali sabe se conectar. Ainda mais com olhares de cumplicidade falando da
liberdade de todos nós. E não precisa segurar na mão, solidão também preenche
vazio, a companhia é um agrado, um carinho no pescoço às vezes.
Sobre o cotidiano queria tanto falar sobre as bobagens que a
gente se ocupa. Dar nomes, obedecer ao estereotipo, preferir o gosto do vizinho
ao nosso. Mas no filme e no universo paralelo que criamos a qualquer hora o importante
é abrir a garrafa de vinho e colocar um samba. Ainda tá pensando nas dívidas?
Escuta essa letra. Vai passar. Ainda tem muita sarjeta por aí esperando por nós.
Delas eu saio rindo cada vez mais alto. Cada vez mais alta.
Temos para onde fugir, por isso me acalma pensar que a arte
continua. Intacta, resistente a violência e a ignorância. Confia em mim. O
carro pode estar todo quebrado na garagem, a casa em chamas, seu filho cuspindo
na sua cara, mas uma hora você vai encontrar a criação, feita por outras mãos,
talvez divinas, moldada no formato da sua libertação. Com calma, vai tirando
seus preconceitos como quem tira a roupa na frente do espelho pra se admirar e
sente o peso das dificuldades escorrerem em lágrimas.
"A eterna desventura de viver a espera de viver ao lado teu" me
faz o diálogo sem sentido de todos os dias. E a oportunidade nem é tão
imperceptível assim, a proposito, outro dia abri um livro e te vi me olhando
através de uma música. Como em um portal da minha casa até a sua. Cada um iniciado em seu próprio meio. Porque nos
meus textos sempre coloco uma frase para alguém que é só um (assim me engano).
Nos créditos vale ficar mais um tempo contemplando a
impossibilidade das cenas tão bem desenhadas e o roteiro perspicaz,
provavelmente escrito pelo maior paranoico. Nunca vi tanta necessidade de ligar
uma coisa na outra. Isso não é um treinamento, ou aproveitamos a batida e
seguimos no ritmo ou nunca desatamos o nó.
E a pipoca é aquela velha história, impossível comer só uma
e quando acaba não tem porque se perguntar se foi exagero, com certeza caberia
mais. Inclusive com coca cola pra ajudar a descer o que ficou preso na garganta.
"I know"
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