sábado, 28 de dezembro de 2013

Sobre se atrever a desvendar Ingmar Bergman

Meu primeiro Bergman foi Sétimo selo. Passou-se toda uma experiência marcante, conhecer um grande diretor, jogar xadrez com a Morte e esperar respostas do Deus, que só o homem soube desenhar, mistificar e calar em apenas um ato. Castigar-se a si próprio com o horror de abrir os olhos diante da peste e perder a palavra, porque a beleza se solidifica em inúmeros formatos, inclusive no alimento e a energia óbvia necessária para cumprir funções. Mais uma vez confusas, não se sabe se livre arbítrio ou medo, como o do tremor das pernas, é que levam multidões a caminharem cegas para o fim.

Esse foi o efeito, não consegui parar de traduzir tudo como um grande simbolismo para o resto da existência das pessoas e das coisas e um pouco mais do inominável. Tanto que depois tive que rever e fazer justiça a que se deve a todo filme, curtir a história, saborear as falas e interpretações, olhar as paisagens e lidar apenas com o explícito.

Depois demorei um bocado pra assistir outro filme dele, liguei o computador à noite e lá estava Persona me esperando. E sabe quando você não termina a frase e o outro já está concordando? A atriz parou de falar. O silêncio não poderia ser mais propício, quando se trata de inconsciente e busca por conhecimento interior. Elizabet vai para uma casa afastada acompanhada de uma enfermeira, Alma. Lá a comunicação entre as duas nunca falha, enquanto Alma se liberta de muitas histórias e pensamentos antes guardados, Elizabet aceita o pedaço da (A)alma oferecido com sorrisos e olhares. Até que a relação entre as duas se torna densa demais, íntima, em uma adivinhação de pensamentos e sentidos quase assustadora. A ligação, que poderia se dar entre quaisquer seres humanos, chega ao limite físico e psicológico. Acontece que quem assiste também entra nesse jogo e se vê dentro dessas mulheres mesmo ciente da barreira imposta pela realidade.


O percurso vai de personagens desconhecidas, que se metamorfoseiam em amigas, irmãs, amantes, rivais até se confundirem na mesma pessoa. Algo de como o artista se une ao público através de sua obra. Fiquei pensando como é isso mesmo que espero do meu leitor, que me diga coisas, seus segredos e encontre uma gota de alívio nas palavras despejadas e demonstre tudo no olhar, mesmo que silencioso. A vontade de ser útil me faz a enfermeira de todos vocês. Mudos e procurando alguma informação útil e nova nessa casa a beira da praia. Às vezes desconfortável, mas, por favor, não há o que questionar mais nessas tentativas tolas de poeta enganada pela praticidade de escrever às madrugadas. Como se fosse curar alguma dor.

Ah, meu bem. Os filmes e os livros estão me deixando louca. Acabo de cochilar e sonhei com você pedindo sinceras desculpas a um cachorro. Que isso! Desculpa eu por ter-te trago até aqui. Só não quero perder agora a jornada assistida e só nos resta a posição de pacientes sobre a hora do lobo que se aproxima.

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